O sumiço do poeta

Há um poeminha a ser escrito, acho,

Só não sei onde o danado se escondeu;

Reviro a gaveta dos motes de alto a baixo,

E encontro nada, o bichinho escafedeu...

Quiçá o poeta decidiu apagar seu facho,

presumo ainda comigo, mas, resto só eu...

E eu não sou poeta, esse estranho bicho,

Que o IBAMA nem se importa que morra;

A outras espécies até zela com capricho,

que não sumam como Sodoma e Gomorra;

o jeito é revirar o sujo cestinho do lixo,

ver se acho algum rascunho nessa zorra...

senão, resta assumir, limitação não deixa,

e a tarefa sonhada quedará , inconclusa;

há passas em fartura, de uvas e ameixa,

que mais para um panettone a gente usa?

O padeiro sumiu no nada, eis minha queixa,

Navegar contra a cascata privado da eclusa...

Como acertar uma laçada em gado mocho,

Seria tentar poetar com o poeta ausente;

Não se trata de ser valente ou frouxo,

Poema é para sensível não para valente;

Há diferenças entre púrpura e roxo,

Mas sem sensibilidade soa indiferente...

Se ele voltar prometo que desembucho,

Digo, o desafio a suprir essa falta, breve;

Como saiu de supetão, deu-se a esse luxo,

Que volte suave, manso qual floco de neve;

trazendo de resto que seja um cartucho,

E mate a pasmaceira, pague o que deve...