Escuridão

Tranca as esperanças num quarto vazio

O mundo real não é gentil com sonhos felizes

Engole o drama que aflige tua alma

Tu não és mais uma menina

Atira todos esses planos idiotas pela janela

Tu não o verás esta noite

Tu não o verás nunca mais

Porque ele está morto

E a saudade é o preço que pagas

Por toda a magia negra que usaste

Um coração vazio pintado de negro

Esmaga as lágrimas que tonteiam dentro do peito

Olhos verde oliva encaram a lua

Ansiosos como se ela tivesse alguma resposta

Mãos impotentes apertam uma à outra

Como se quebrando os próprios ossos

Pudessem diminuir a raiva trazida pela ausência

Tudo se foi como num piscar de olhos

Não há brilho, nem futuro

Só esse agora minguado

Que não consigo chamar de presente

E um passado travesso

Que insiste em aprumar-se

Mostrando um lado glamoroso

Que na verdade nunca teve

Joga essas ideias perigosas porta afora

Antes que elas te cortem os pulsos

Apaga tudo, apenas apaga

Sem medo de sentir falta dos fantasmas

Eles voltarão a atormentar-te

Em outras formas, como sempre conseguiram

Não penses no que perdeste

Ou nunca mais poderás ganhar nada

Sê forte, apenas sê forte

Porque o agora não dura para sempre

E ainda pode haver brilho no amanhã

O coração negro se estilhaça

Até mesmo a esperança machuca

Apertada contra os cacos que insistem em cravar-se no peito

Os olhos verde oliva nada veem

Nada viram

Pois a lua apagou-se quando se foi aquele sorriso

E as mãos continuam a apertar-se

Apertar-se-iam até sangrar

Como se o carmim fosse de algum modo melhor que o negro

Nadando na noite que parece não terminar

O amanhã virá em algum momento

Não que eu realmente me importe

Estarei em algum lugar longe

Em algum lugar etéreo

Com meus pesadelos ambíguos

Que tornaram-se o único lugar onde posso encontrá-lo

O amanhã virá trazendo sua luz dourada

Mas eu estarei longe demais

Para que seus raios consigam romper a escuridão