O Choro da Esperança
"A cerejeira está apodrecendo
nas lembranças de tudo o que foi bom
e pereceu com o tempo.
Meu sexo rubro é como o fruto:
cereja doce
mas que foi mal colhida
(por quem não merecia?).
Meu sexo agora é triste
tímido e cansado.
Conseguiram tomar de mim o que de
mais espontâneo e vivo eu tinha!
Três dias atrás e eu estava
sem caber em mim,
imersa em felicidade por te fazer feliz.
Mas três dias também são suficientes
para perceber que amizade
se não coexiste, não existe.
Três pessoas foram suficientes
para a paixão alfinetar
e amargar meus lábios.
Três pessoas atrás
e eu amava sem saber amar.
Três pessoas adiante...
Eu só sei do meu cansaço.
Não estou interessada
em novos relacionamentos.
A amizade que eu achei
não me é amiga.
Outrora eu bem poderia me doar
(como mesmo doída, me doei.)
Agora, como sempre
de mim vou cuidar sozinha.
Sou boa nisso...
e trouxe comigo as palavras,
a música e os livros.
Da próxima guardarei melhor as sementes
as flores, e o fruto.
As árvores... inteiras.
Ou deixarei que as estações levem as folhas,
as flores.
É verão agora, mas dentro de mim
o outono já chegou.
"O calor infernal nessa cidade
faz a cola dos laços mais fracos soltar"
algo assim, uma poeta já dizia.
É verão, mas dentro de mim
há um frio que traz uma nova morte
diferente, dolorosa, consciente."
"Vai passar..." - diz o tempo,
consolando a esperança.