QUARTO VAZIO
"Aluga-se", diz a tabuleta.
Abro a porta meio emperrada
e o vazio me agride
e me insulta com o nada.
Adivinho vozes escondidas
nos cantos das paredes
e sombras pendentes
das cortinas encardidas.
Diviso na penumbra deprimida
essas paredes nuas de saudade.
Delas escorrem rastros de fantasmas
como lágrimas sem brilho
brotadas do frio e da ansiedade.
Um cheiro de pó velho e azedo
revive a presença invisível
de uma alma penada, de outro mundo,
a gargalhar de meu espanto
e do meu medo.
Não! Não poderei morar aqui!
Não, entre essas lembranças mortas
de quem, antes de mim, viveu,
amou - quem sabe aqui morreu...
Triste, volto ao senhorio
e desisto de alugar o vago quarto.
De tudo que ele tem, vazio,
meu coração está cansado e farto.