Sobre o orgulho

Ele

Penso às vezes no gesto que não fiz,

Gesto humano no instinto ainda hesitante

Gesto que por si só talvez fora o bastante

Para mudar a tua diretriz!

Eu

No tempo de hoje ainda é assim

Vejo muitos sonhos perdidos

Ideias que mordem os sentidos

Atrai arrependimentos, medos e afins.

Ele

Meu orgulho, porém falou demais,

E tu tiveste a mesma decisão.

Daí termos perdido a nossa paz,

E termos feito em dois um coração!

Eu

O orgulho mata e até destrói

Tomamos atitudes sem pensar

Com o intuito de nada demonstrar.

Não há sobras de nenhum herói.

Ele

E hoje vamos assim, ao Deus dará, sem Léo,

Sofremos cada qual o seu destino.

Nosso amor talvez fosse pequenino,

Mas era todo ele o nosso céu.

Eu

O amor nunca se aposenta, nunca!

Trabalha incansavelmente e ao vivo

Mesmo que haja certo equívoco

No coração ele se esquenta

Ele

Penso agora: de nós qual o culpado?

A mim, deveras na hora decisiva,

Reter-te junto a mim, presa, cativa,

Como um troféu de glória em luta conquistado!

Eu

Ninguém é culpado quando deseja

A vontade não é algo tão ruim

É palavras briguentas, um estopim,

É natural o que se almeja.

Ele

A ti, fora melhor um gesto de incerteza,

Uma tibieza d’alma, a indecisão.

No instante em que atiraste a correnteza

Os despojos mortais desta paixão!

Eu

Sim, fracos somos quando há paixão,

Momentos cálidos que se derramam

Levam-nos como um mar revolto

Na lembrança, corações que se amam.

Ele

Fora mister porém, o grito despedido

Do fundo d’alma, como um borbotão,

Um grito humano e forte, resumido

Numa palavra só, que era: perdão!

Eu

O perdão alivia, dá uma sensação de leveza

Não há sentimento mais gostoso a experimentar

Noites a fio se passam no coração pensante

Com ideias taciturnas, mas só por querer perdoar.

Ele

Fomos duros, e assim nos contivemos.

Quanta tolice e quanta ingenuidade!

Por um minuto só de orgulho que tivemos,

Hoje sofremos uma eternidade!

Eu

Não há fim para aquilo que não tem que acabar

Tolices e ingenuidades fazem parte da vida

Seja a dor de um amor ou um gesto de amar

Mas isso é que nos faz refletir mais ainda.

Ele

Fomos humanos, vês? Fomos maldosos

Nossa vida no orgulho se resume!

E o amor no coração dos orgulhosos,

Se chega a deitar flor, não há perfume!

Eu

Mas ao contrário do orgulho, há a humildade,

Ela nos ergue, como um beijo apaixonado!

Dá-nos uma pedra para pôr no passado destrutível

E uma continuidade para o que fomos destinados.

Belly Regina e Poeta desconhecido (1943)
Enviado por Belly Regina em 29/12/2013
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