As horas passam...
Ela era um sonho repetido nas noites e dias de minha mocidade.
Uma transgressão velada até da alma que insistia em dormir.
Uma partida na primeira hora, na aurora, e no entardecer.
Uma boca beijada; gotas de orvalho após um dia quente num verão que se estende.
O amante é cego; é um bruxo que trabalha contra si.
A paixão é feitiço; é fogo que derrete o ferro e o aço.
É vinho que embriaga a razão e entorpece o juízo.
É uma mulher egoísta a andar sozinha na praça.
É um vendedor de fantasias e prejuízos.
Contadora de histórias, e de desgraças.
Ela era um alento; tirava-me do espírito tormentos.
Mesmo por um momento; curto minuto numa eterna sede insaciável.
Um copo de água com lágrimas e sofrimentos.
No chão, vidros quebrados; cacos cortantes, na calçada, espalhados.
Quem passará?
Foi uma despedida?
Será que amanhã não terei você?
Há pessoas que nascem para amar; e outras que vieram beber do cálice da ventura.
Triste foi o dia do teu nascimento! O teu prazer será só por um sopro!
Será uma carteira roubada de um bolso desatento na feira.
Isso foi o seu encontro com sua parceira.
Uma nuvem escura diz da chuva que virá.
A água que corre levará as lembranças de ontem.
A água que nunca volta; a correnteza que some nos bueiros escuros da solidão.
Foi um caso. Só um caso.
Mais um, entre milhões.
Será?
Uma lágrima caiu de seu olho;
Uma gota de água e sal escorreu pela face triste.
O seu peito esquerdo encolheu e a moça se foi...