Angu de caroço
Ó destino desnorteado e sem freios!
Dispara assim, tonto e sem tréguas?
Como cavalo doido sem arreio...
Quando penso em galopar-te rasante,
Eu é quem sou cruelmente galopado.
As coisas, todas fora do meu domínio;
Enquanto elas vivem pulsando,
Eu aconteço por acaso ou por engano.
Os meus planos estão entrelaçados
Aos milhões de planos desse mundo
E até de outros, em outros planos.
Tenho um olho em terra de cegos;
Mas quem disse que sou rei?
Apesar do olho que tenho,
Miro apenas no que nada sei.
Vejo a viola em cacos na terra da música.
Os cachorros mordem a cobra
E a linguiça envenena as suas almas.
Quantas tolices são expostas
Como profundas e essenciais filosofias...
Caminho sobre milhões de conceitos,
Às cegas e assim meio sem jeito.
Aqui dentro, o peito suplica por calma;
Lá fora, as quimeras querem a minha alma.
Mas, se não posso com essa mandinga,
desisto, não carrego meu patuá.
Apesar do fuá, da loucura e do alvoroço
A vida não pode ser um angu de caroço.
Cacá