SANGUE E RENDAS
SANGUE E RENDAS
A noite invejosa calou
O grito morto nas entranhas
Ali esticada ela ficou
Em sangue e rendas.
Nos cabelos encaracolados
Um brilho úmido do xampu
Escorria pela nuca
E os fios ainda molhados
Cheiravam um odor barato
A testemunha cruel
Escondeu-se atrás do espelho
Calando o assassinato
Difícil seria encontrar o culpado
A vida? O destino? O cliente?
Aquele que saiu sem gozar,
Em silencio desesperadamente?
Ela estava lá vencida
Já tinha sido toda vendida
No último mês de prenhez
Morria ao executar seu ofício
Talvez uma crise de embriaguez
Ninguém quer tirar as vendas
E prefere se calar por timidez
De encarar a realidade
E falar logo de uma vez
Era seu ofício mesmo
No último mês
Da indesejada prenhez
Estava há muito curtida
E ali morta e estendida
Sorria livre e desimpedida
Entre sangue e rendas.