contrastes
Quem disse aos passarinhos que é domingo?
Porém, eles sabem, seu canto os entrega;
Prometido temporal, trazidos uns pingos,
Minhas flores gratas ao regador tão exíguo,
Por beberem o seu vinho de outra adega...
Minha alma insiste nessa eterna segunda,
Que faz o olhar enxergar apenas trabalho;
Conforme o peso do clássico pé na bunda,
A marca é superficial ou, quiçá, profunda,
A perda de uma carta inutiliza o baralho...
Assim, cercado do belo mas o feio maldito,
logo furta àquele, sua mão dura interfere;
Ao sombrio planeta solidão, lento orbito,
Carência reivindicando seu direito ao grito,
Mas, a juíza prudência analisa e indefere...
Resta a poesia para o strip tease da alma,
Peça por peça nessa angélica pornografia;
Sem música, fundo, apenas virtuais palmas,
Como a nicotina que ao fumante acalma,
sorvendo essa fumaça onde um fogo ardia...