Extasiada
Não sabia se olhava para o azul do mar.
Ou para o azul do céu.
Eram tons tão bonitos
E apaixonantes...
E nos formatos das nuvens
Imaginava cavalos, carruagens,
fadas, magos e tanta magia
feita de algodão doce ou etéreo
Ao chegar ao chão.
Posto que flutuava em vida
No oceano profundo da imaginação...
A âncora caiu ao chão
e quebrou-se.
Não poderia mais me lançar novamente.
Lançar-me ao infinito,
ao desconhecido...
Aos umbrais de mistério e suspense.
Estava atrelada ali.
Na terra com peso e gravidade.
Com a forma de um corpo
que nem escolhi.
Com o ritmo de vida que não
entoei...
Então as palavras e as poesias
Antes apenas registradas no papel.
Ganhavam aos poucos o som.
Dos fonemas.
Das vozes.
Dos gritos.
E de cantoria...
Um coral absurdo e caótico.
Que transbordava significados...
semânticas doentes...
gemidos tocantes
E sentimentos comoventes.
De tanta gente.
E de cada canto sem geometria.
Então o espaço e o tempo
Se condensaram indecentemente.
Um gesto de sua mão
Surpreendeu meu lirismo
Acanhado e embutido.
E a lágrima finalmente aportou
bem no canto da boca
Como se quisesse afagar
a palavra
não dita.
Maldita.
A última palavra
de um diálogo de silêncios
que jamais existiu.