Desdém
Pássaro que voa longe,
No mais alto dos céus.
Que me fascina com
seu cantar,
Por sua sabedoria
Tiro o meu chapéu.
Só me resta contemplar-te.
Eu, que presa ao solo,
Até para fazer-te sombra
Sou pobre, a falta de sorte
Me ronda.
Muito raramente pousas
Sobre minha triste copa.
Minhas folhas balançam
A convidar-te, mas logo
Tu te escondes numa toca.
Meus apelos são vãos, e
Teu coração não toca.
Você nasceu para o alto.
Eu, para o solo, Deus me fez.
Diante de tamanha distância,
Recolho-me a minha pequenez.
Voe, voe bem alto
Mas, cuidado,não vá
Muito perto do sol.
Mesmo que se ponha
a oferecer-te.
Para não acontecer ,
que de tão perto,
se ponha a derreter-te.
Já aconteceu com
o pobre Ícaro.
Não posso te ver sofrer.
No livro da minha vida
Seu nome está escrito.
Mas,o meu não está
Escrito no seu,
Isso digo e repito.
Sou pobre árvore do cerrado.
Meus galhos são tortos ,
Mas servem para fazer pincel.
Também acolhem as abelhas
Que vem a mim fazer seu mel.
Para muitas outras aves,
Sou mausoléu.
Também há quem ache
Que sou mesmo um pitéu.
Só não existo para você,
Orgulhoso pássaro do céu.
Sei que nesta vida
Não aprendeste outro papel.
A cada canto que dás
É desculpa para um troféu.
Com o limão faço limonada.
Com a ausência do amor ,
Finjo ser bem amada.
O teu desdém que
me faria abandonada
converto tudo numa luz e
me faço
iluminada.
Para o desdém,
Digo amém.
Meus passos sigo firme
Sei que posso ir além.
Só vou amar quem
Me ama também