A POESIA MIGROU PRA INTERNET

Eu perdi um poema vazio neste crepúsculo estúpido

Esta cidade estoica não sabe guardar segredos ou bênçãos

Pra que saber tantas metáforas se o que funciona é o palavrão?

É este o mundo do foda-se não sabia?

São estes os tempos dos gritos insanos

A poesia migrou pra internet

Oh estranho reduto o nosso agora poesia

Versos que são teclados não mais escritos

Paginas que são clicadas e não mais viradas

A poesia agora respira por aparelhos...

Será verdade?

Não... creio que não!

Mas este é o mundo onde os protestos de rua levam a novos votos nos mesmos nas próximas eleições

É nesta terra de fome que todos vagamos

É aqui que você pode fingir não ter medo

É aqui que você pode ate mesmo não conhecer o próprio medo

Mas teu medo criança... teu medo conhece você

Nas cidades as rachaduras nos prédios sussurram segredos

Quem viu quem ouviu quem sabe... quem soube?

Os becos são ainda tão antigos e escuros como antes

Aceite isso!

No mundo a lugares que simplesmente não foram feitos para a luz

E existem corações assim também

A civilização Nasceu de matar você sabe não sabe?

Espoliar destruir escravizar, dividir e conquistar.

Tão simples...

Descer da caravela já de arma em punho e cabeça feita

Incansável o bravo desbravador

Há sempre um golpe pro índio

Pro negro

Pro diferente

Pra todos

Eu perdi realmente um poema vazio no crepúsculo

Alguma coisa que não diria nada de nada

Algo tão leve de relevância que o vento débil levou

Então também “teclei” meu poema

Este que restou

E vou deixa-lo a deriva no mar sem lei do novo mundo

Ao sabor dos mares da internet

Talvez tão fútil

Tão gutural

Inútil

Mais nenhuma pagina a virar.