Rejeitado (Ode Moral)
Rejeitado
(Ode Moral)
Ó meu Deus! Tu que estás sempre velado…
Deixa-me ouvir tua voz, diz-me porquê…
Porque é que eu fico sempre assim a meio
Sem conseguir chegar?
Eu esforcei-me! Omiti a minha dor,
Suplantei objectivos tabelados!
E sempre que assim pude, acelerei…
Produzi em abundância!
Diz-me porque não tenho a formosura,
E a idiossincrasia que conquista,
Os olhos dos senhores que comandam
O reino laboral?
Porque é que é eficaz toda a mentira?
Porque assinam contratos os mendazes,
Esses bajuladores que sorriem
P´ra todo o patronato?
E porque o patronato os idolatra,
E os leva atrás de si quais atrelados…
Enquanto em suas costas, esses vermes
Lhes lançam mau olhado?
É verdade que nunca puxei lustro
A ninguém, pois não é esse o meu mister,
Nem é esse o conceito que venero…
No meu modus vivendi!
Nunca fui de sorrir ou bajular
P´ra alcançar o pináculo e a graça!
Nem fingi amizade em mau ardil
Só p´ra ser dignitário!
Ó meu Deus! Ó meu Deus… diz-me que não!
Diz-me que não é essa a senda ou o trilho,
Que me fará não ser mais interino
No reino laboral!
Diz-me que não terei de ser assim…
Como esses vermes podres que se arrastam,
No encalço dos senhores que seguram
A rédea do ofício!
Diz-me que basta apenas produzir!
Que basta ser um homem diligente…
Trabalhar com minúcia no meu posto
P´ra nele perdurar!
Só quero garantir a refeição,
E conseguir hastear alguns dos sonhos…
Alguns dos meus ´standartes tão famintos
Pelo afago do vento!
Mas p´ra isso… não quero ser um verme,
Nem me quero imiscuir com a podridão,
Que efluvia sorrisos encenados
P´ra tudo conquistar!
Só quero ter trabalho… ocupação!
E garantir no corpo, pelo menos,
A existência de um bolso p´ra guardar
Os meu parcos proventos!
Mas segundo me dizes meu bom Deus…
Agora que já escuto enfim tua voz,
A ressoar dos teus céus p´ra meus ouvidos
De forma complacente…
Ou me converto ao mal em tenra idade
E adiro à religião sem salvação,
Ou então vou acabar sempre sozinho…
Odiado e rejeitado!
André Rodrigues 20/9/2013