POETA CABOCLO.
Não veio de berço de ouro,
Custou ganhar instrução,
No trabalho deu seu couro,
Ao desbravar o sertão.
Filho nato dessa terra,
Cresci longe da cidade,
Subi morros desci serras,
Pra ser feliz que vaidade!
Meu pai não teve recursos,
Por esse chão brasileiro,
Vivendo aqui quase apulso,
Fomos aqui dez herdeiros.
Cinco guerreiros se foram,
Seus rastros se apagaram,
Cobrindo a almas de choro,
Dos corações que ficaram.
No lidar em rudes sendas,
Menino pobre viveu,
Realidades não lendas,
Pobre menino cresceu.
Não nessa época de agora,
Com tantas modernidades,
Viveu a vida de outrora,
Sensível calamidade.
Nas brenhas dessa floresta,
De exuberantes belezas,
No coração não fez festas,
Teve na vida durezas.
Tenro e sem ter valias,
Só sonhos inda imaturos,
Nessas épocas muitos dias,
E um destino obscuro.
E não se perdeu no tempo,
As lições que aprendi,
Vale-me cada momento,
Coisas que não esqueci.
As canções rudes da terra,
Tomaram-lhe o pensamento,
Vivas lições tudo encerra,
Nos ofegantes momentos.
É o poeta caboclo,
De braços fortes cravados,
Que inda mesmo garoto,
Teve seus dias podados.
Adolescente e matuto,
De sobreleva acanhado,
Regado a destino impoluto,
Um intelecto marcado.
De vivencia reservada,
De posse toda experiência,
Não aspira quase nada,
Apenas boa querência.
Homem de fala arrastada,
Sem deslanche de ação,
Mas moral incontestada,
Virtude de mansidão.
Criado em rude lida,
Nos campos de meu Brasil,
Aos poucos lhe esvai a vida,
Nos braços da mão gentil.
Nunca teve berço pleno,
E nem um palmo de chão,
Mas não faltou-lhe empenho,
Em cima te tal torrão.
Não tenho o dom da fala,
Escrevo o que me vem,
Mas no peito nunca cala,
Simples versos tão aquém.
Lacrimam olhos caboclos,
Ao contemplar as florestas,
Tantos olhos fazem pouco,
Do pouco que hoje resta.
Geme o caboclo das matas,
Em férrea indignação,
Vendo secar as cascatas,
Que abastece o sertão.
Foge-lhe dos olhos o sono,
Tão preciso ao ser vivente,
Vaga-lhe o ser tristonho,
Lamentado infelizmente.
Perde-se em lucubrações,
Ao contemplar as belezas,
Já não há mais invenções,
Foram-se atos de nobrezas.
Em fim poeta caboclo,
Entoa em recordações,
Dos tempos que foi garoto,
Aquelas simples canções.
De tempos que já se foram,
Que não voltarão jamais,
Tão raras que nem o ouro,
Comprá-las será capaz.
Então em rude poesia,
Traz seu grito de socorro,
Como uma triste melodia,
A torcer por seu renovo.
Cosme B Araujo.
18/09/2013.