DEVANEIOS
Ainda conservo aquele beijo
que, de graça, me deste com graça.
Senti o lufar de seus cabelos
Fazendo cócegas em meu nariz.
Pensei num champanhe borbulhando.
Pensei no sol invadindo
Nosso quarto ainda insone.
Pensei no jardim filtrando a manhã,
Coando o orvalho primaveril.
Pensei no batom, criança ainda,
Marcando o vidro do box:
Um coração seguido do "EU TE AMO!"
Seu cantarolar emergindo acima da ducha.
Seu cheiro gotejando desejos.
Seu desfilar macio sobre o carpete.
Seu corpo nu em meu corpo nu.
As horas morrendo em círculos
No velho carrilhão da sala.
Aí... bem!... aí veio a chuva
E carregou todos os meus devaneios.
Me fiz Robson Crusóe pós-moderno,
Sem ilha, sem eira
E sem Sexta-feira.