DEVANEIOS

Ainda conservo aquele beijo

que, de graça, me deste com graça.

Senti o lufar de seus cabelos

Fazendo cócegas em meu nariz.

Pensei num champanhe borbulhando.

Pensei no sol invadindo

Nosso quarto ainda insone.

Pensei no jardim filtrando a manhã,

Coando o orvalho primaveril.

Pensei no batom, criança ainda,

Marcando o vidro do box:

Um coração seguido do "EU TE AMO!"

Seu cantarolar emergindo acima da ducha.

Seu cheiro gotejando desejos.

Seu desfilar macio sobre o carpete.

Seu corpo nu em meu corpo nu.

As horas morrendo em círculos

No velho carrilhão da sala.

Aí... bem!... aí veio a chuva

E carregou todos os meus devaneios.

Me fiz Robson Crusóe pós-moderno,

Sem ilha, sem eira

E sem Sexta-feira.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 31/07/2013
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