VIDAS VAZIAS

Sim, eu sou dessas mulheres,

dessas que há milhares por aí

entre milharais,

entre coqueirais,

entre carnaubais,

entre babaçuais,

entre seringais,

entre cafezais,

entre arrozais,

entre laranjais,

entre capinzais,

entre trigais

entre pinhais,

entre currais...

E, sou dessas mulheres,

dessas que há milhares por aí

entre escritórios,

entre auditórios,

entre consultórios,

entre sanatórios,

entre refeitórios,

entre cantinas,

entre oficinas,

entre esquinas,

entre paredes,

entre camas e redes...

Eu sei, sou dessas mulheres,

dessas que há milhares por aí

que só quer um homem

que lhe mate a fome,

que seja companheiro,

que não seja patrão,

que lhe diga bobagens,

que lhe faça carinhos,

que prometa viagens,

que lhe abra caminhos...

Sim, sou dessas mulheres,

dessas que há milhares por aí

que vivem com um homem

que está sempre cansado,

que está sempre ocupado,

que tem outro programa,

que chega em casa e reclama,

que não lhe ensina o jogo,

que não lhe atiça o fogo,

que sempre sabe quando...

É, sou dessas mulheres,

dessas que há milhares por aí.

Não sou das melhores

e nem das piores,

mas sou carente de carinhos.

Sou das que não ouvem palavras ternas,

que não recebem elogios,

que não esperam presentes,

que sonham com um amante,

que querem uma outra chance,

um novo horizonte,

que só têm filhos e dias...

Enfim, sou dessas mulheres

de vidas vazias,

dessas que há milhares por aí.

(Para Cristina, em 12 de setembro de 1978)