Vênus em Câncer
Me ame como eu tanto quero:
Inconsequente, mas com muito esmero
De que adianta o afeto que espero,
se nessa vida já não sei amar?
Carregue minhas dores
minhas falhas, ex-amores
Seja tudo que preciso for
pois esqueci o que é o amor
Quero, da memória dela, liberdade
viver de novo a malfadada intensidade
Sorrir pra dor no vazio dessa cidade
na eloquência do silêncio de um poema
Suspiro no vácuo do meu quarto escuro:
O raciocínio já não tem apuro
Na loucura estática do meu pudor
eu penso: nessa vida não vou mais sorrir!
Me ame, senão desespero!
Inconsequente, tal como Nero
De que adianta a razão do clero
se nessa vida já não sei amar?
Traga-me o abraço que não conheci
e as lágrimas de solidão que engoli
A saudade que não sei sentir
e as rimas que me faltam agora...
Mostre-me os versos de felicidade!
Que ainda há ingenuidade
e, no vazio que restou de você,
não toque
não lembre
não olhe
não chore...
Pois saber que você me falta
é a verdade que o poeta exalta
A luz, que dos meus olhos salta
Pois nessa vida já não sei amar
Senão você...