Na garoa fina das horas

Me assusta a ideia de que a vida
Nunca mais será a mesma
Que algumas sensações e sentimentos
Vieram e se foram para sempre
 
Essa coreografia insana
Que seduz e inflama em labaredas
Se molha na garoa fina das horas
E seca como broto separado da seiva
 
A nostalgia é um bisturi afiado
Que perfura os tecidos mais profundos da alma
Sob o som inaudível da saudade
Projetando-se para o universo
 
Uma perplexidade óbvia e hemorrágica
Exaure a vida pelos segundos afora
E de pétala em pétala
A abelha  colhe o inexaurível néctar amargo
 
De tudo o quanto já restou demolido
Faço matéria-prima de novos edifícios
Onde novas cidadelas iluminadas irão surgir
Com suas coloridas luzes noturnas
 
A brisa tímida da esperança moribunda
Sopra seu hálito sob quintais ensolarados
E só o burburinho da crianças
Quebra a monotonia das tardes vazias