BATALHA DAS DORES DO MUNDO

Encarcerado numa prisão de lágrimas

Gritam as vozes inauditas da tortura,

Pululam as chagas pustulentas do desamparo

No meu sôfrego cárcere de desventura.

 

Ao final de uma manhã de iniquidade

Olhei o céu repleto de amargura

Contemplei as dores no arco-iris da saudade

Neste sôfrego cárcere de desventura.

 

Carcereiro da minha própria tristeza

Alistei-me na batalha da desesperança

Vesti o imperioso uniforme da soberba

Numa guerra de vanglórias, orgulhos e vingança.

 

Lúgubre soldado rastejando entre as dores

Quase sucumbi no "front" das desavenças

Num contínuo combate pavoroso de sofredores

Sufocado nas trincheiras das ofensas.

 

Sentinela da dor e da desgraça alheia

Norteado pela bússola da atrocidade

Sob a manta da discórdia que falseia

Abriguei-me contra o frio da maldade

 

Patrulhando nas estradas íngremes da agonia

Atravessei campos de batalhas da indiferença

Embrenhei-me nos pântanos da egolatria

Chafurdei no lodo pútrido da descrença.

 

Guerreei entre martírios e tormentos

Até as fronteiras distantes do absurdo

Penetrei no campo minado dos odientos

Surge a crueldade voraz consumindo tudo.

 

Agora prisioneiro de guerra da infâmia

Açoitado pela brutalidade da intransigência

Numa noite enfurecida de intolerância

Contudo, sob as estrelas da minha crença.

 

Moribundo, levantei a bandeira branca do amor

Pressentindo à morte como um sono profundo

E vestindo a mortalha do esquecimento

Perecem as dores vis deste mundo.