Focinheira

Nasci. Sou criança.

Mas, quem sabe das coisas, não me conta.

É enganando que se cria a mentira hereditária que vira tradição.

É para o meu bem…

As perguntas na minha cabeça

São afogadas na ilusão.

Da consciência, nem se fala.

Ainda não.

Pronto. Sou jovem.

Vou e volto da escola todo dia,

E nunca me explicam o porquê da obrigação.

É para o meu bem.

Um adulto fala lá na frente.

Eu sentado, descontente,

Preocupado em anotar.

No quadro: nada interessante…

Até podia ser legal,

Se fosse mais natural,

Mas é tudo forma, norma,

Cinza e impessoal.

Estão me preparando,

Eu sei,

Para ser alguém.

Quem?

Faculdade, mundo novo!

Em especial dedicado ao estudo da técnica

Para que todas as coisas continuem do jeito que estão.

É para o meu próprio bem, não causar confusão.

Mente viciada…

Não decido nada, já está tudo no roteiro.

Ouvir, anotar, “aprender”,

O necessário para “vencer”?

Produzir é imperativo!

Tem de ser prático e imediato.

Cuidando para não perder tempo

Com o que não dá para vender.

Enfim, formado.

O contorno caprichado esconde o sorriso amarelo,

De quem, em toga, tão belo,

Percebe a trama, armadilha em que fora apanhado…

Mas ainda sou limitado.

Carente de sinceridade,

Pois não há verdade.

E o mundo pede sempre mais.

Vou continuar vivendo, mas não pra mim…

Eu já percebo,

Que fui educado assim,

Para viver com medo.

Gabriel Aquino
Enviado por Gabriel Aquino em 18/05/2013
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