Focinheira
Nasci. Sou criança.
Mas, quem sabe das coisas, não me conta.
É enganando que se cria a mentira hereditária que vira tradição.
É para o meu bem…
As perguntas na minha cabeça
São afogadas na ilusão.
Da consciência, nem se fala.
Ainda não.
Pronto. Sou jovem.
Vou e volto da escola todo dia,
E nunca me explicam o porquê da obrigação.
É para o meu bem.
Um adulto fala lá na frente.
Eu sentado, descontente,
Preocupado em anotar.
No quadro: nada interessante…
Até podia ser legal,
Se fosse mais natural,
Mas é tudo forma, norma,
Cinza e impessoal.
Estão me preparando,
Eu sei,
Para ser alguém.
Quem?
Faculdade, mundo novo!
Em especial dedicado ao estudo da técnica
Para que todas as coisas continuem do jeito que estão.
É para o meu próprio bem, não causar confusão.
Mente viciada…
Não decido nada, já está tudo no roteiro.
Ouvir, anotar, “aprender”,
O necessário para “vencer”?
Produzir é imperativo!
Tem de ser prático e imediato.
Cuidando para não perder tempo
Com o que não dá para vender.
Enfim, formado.
O contorno caprichado esconde o sorriso amarelo,
De quem, em toga, tão belo,
Percebe a trama, armadilha em que fora apanhado…
Mas ainda sou limitado.
Carente de sinceridade,
Pois não há verdade.
E o mundo pede sempre mais.
Vou continuar vivendo, mas não pra mim…
Eu já percebo,
Que fui educado assim,
Para viver com medo.