Barco

luizcarloslemefranco

Barco que singras p’ra lá dos anseios,

que navegas além dos desejos,

que vais, por seus próprios meios

fora do horizonte onde vejo,

mais acolá do mundo material,

leva as minhas angústias da Terra

e as deixa no ponto final.

Quem sabe minha amargura se encerra.

Barco virtual, de mentira, imaterial,

Caminhas na imaginação do poeta

Que pensa, na verdade, seres real

e que te visualiza como meta

de uma possibilidade, certamente errada,

de que leves daqui, com facilidade,

pelas tuas viagens sempre ao nada,

a melancólica e perversa saudade.

Ando nas águas da tristeza

neste mundo que dá só dissabores,

sem perceber, nem ter certeza,

que as coisas poderiam existir sem dores.

Barco leviano, mentiroso,

Tu não levas as maldades embora.

Tu apenas enganas, malicioso.

Finges que viajas mundo afora.

Barco construído de ilusão, mania,

a tua viagem nunca aparece

porque nossa mente, que te cria,

idealiza-te mas a feitura não acontece.

Barco de papel, irreal,

- angústia, amargor de verdade-

não se pode, simplesmente, despachar o mal

e ficar, no espaço, a felicidade.