MINHA DOR

A minha dor, ainda não sei resolver. Mesmo que seja a custo alto, não sei como resolver. Não sei resolvê-la com um calmante, um trabalho físico ou um desabafo no ombro de uma pessoa amiga, ou nos ombros de Deus.

Tento resolver mexendo na terra, organizando as roupas no armário, limpando a casa, me absorvendo no trabalho ou cobrando a Fé. Mesmo assim não sei resolver.

Fico mudo, meu braço sobra, minha mão falta, meus lábios tremem, algum vento sem força passa ao longe de mim.

A minha dor não se comunica e me isola cada vez mais para dentro de mim. Tento encontrar palavras para falar e gritar porém, sinto-me intruso, incômoda, desnecessária e, por me reconhecer assim minha boca se cala.

Me percebo, como uma casa em reforma depois de um abalo sísmico. Toda dor só é compreendida dentro do idioma da própria dor.

A dor não busca conselhos, busca a verdade para colocar por cima das feridas, na busca da cicatrização da ferrugem e da maresia da alma.

A dor é pedalar com a respiração, é desfalcar, é dividir em anjos bons e maus, fazendo duvidar do que se podia pensar e não falar.

A minha dor se torna mais pessoal, porque é indiferente a minha própria dor. É como uma parada de ônibus sem ônibus algum ter para chegar. Uma parada de ônibus para sentar e não ir. Pois permaneço dentro dos meus passos no círculo da lembrança fixa e amargurada.

Tem a altura de um grito que não é dado para não desperdiçar os sons que se encontram presos na garganta. Que não sorri e não se empresta, pois é dor de osso, dor que não se enxerga de dia e não se percebe a noite. É neblina com a roupa presa nos galhos das árvores. Uma escada sem corrimão, sem apoio. Uma escada desigual como os olhos que choram no momento de dormir. Desigual como a própria vida!!!!

Vida que me esconde, me segrega, me empurra e me leva aos pesadelos noturnos, lugar para onde eu não desejava jamais voltar.

Dor que pede ajuda para não ajudar. Severa como uma verdade antes da morte, rígida como uma mentira depois da morte.

É banal, irrisória e tola para os que não mergulharam nas águas que se tornaram lágrimas contidas na imensidão do mar.

Dor carente dos que não enterraram seus pés na areia dos cerrados ao correr para da tristeza fugir e não se deixar alcançar. Discreta como os sons que não se encontram na pronúncia das palavras que não foram ditas porque não foram pronunciadas.

A minha dor é destelhada. É uma árvore avessa, uma alegria não partilhada, uma água do rio que já estar a correr da fonte para o mar. A minha dor, eu não sei resolver. A minha dor causa a dor do outro. Dor intensa que não sei onde depositar, porque nem mesmo eu sei onde possa me colocar.

Se torna como um abraço que abraçamos, e que se pede para se devolver. Devolver se torna o abraço não devolvido da dor do outro que fizemos sofrer.

Sofrimento não se divide. Entrega-se a Deus, não se exigindo ou cobrando resoluções imediatas.

O erro que já é verdade não pode errar mais do que já errou. Pois, torna-se suspiro do fogo que dá cor ao perdão.

Amar é sempre estar disponível para perdoar alguém. O desprezo é uma forma desaforada de deixar de amar. O medo convence mais rápido. Um sonho não me diz verdades, mas pode me tornar verdadeira. Olho ao meu redor. Dentro da dor, adquiro a certeza de que estou sozinho pois, nem a esperança me soube ser verdade.