Algoz
Não sou só o algoz de machado torto,
Eu sou o crente, o cético e os porcos.
Os das pérolas jogadas em vão,
Que tilintam imundícies no chão.
Não sou o sorriso honesto.
Eu sou o teu pesadelo mais funesto.
Sou raiva, sou gozo e sou sexo.
O interno avesso do convexo.
Sou carne do pão que arde,
Do vinho que te sangra e parte.
O lodo que te banha e limpa,
O verde, o amarelo, o azul e as cinzas.
Da fogueira amarga de fumaça doce
O doce que transcende e finda.
Sou as estrelas irreflexivas.
Das profundezas foscas do delírio,
Eu sou o colírio.
Dos olhos vermelhos em chamas,
Queimando tua alma humana.
Embrenhando-me na tua mata crespa,
Sou o veneno viril da vespa.
Sou a catinga que exala límpida,
Do fulgor da tua alma corrompida.
Sou a mentira que tua existência torna.
Sou o fim do teu sonho lindo.
Sou o escuro, o feio, e o limbo.
Do nó em volta da garganta; a corda.
Sou o grito, o desespero e o pranto,
Tua falta de sorte.
Eu sou a tua morte!