Das marcas

...E quando eu me for, deixarei poucas marcas,
Todas rasas,
Perder-me-hei no vão das estradas
Por onde passa o esquecimento,
Apagando todas as pegadas.
 
Minha memória será breve,
Lavada pelo pranto igualmente raso
Dos que jamais me amaram ou compreenderam
Ou souberam, realmente, quem eu fui.
 
Talvez demorem-se um instante no caminho,
Olhando para trás, 
Enquanto um bando de pássaros em revoada
Carregam consigo o que restou de mim,
Para bem longe,
Para o infinito,
Onde esquecem-se as memórias.
 
Talvez meditem no enigma daquela
Estranha criatura, que nasceu
E cresceu entre eles, 
Sem jamais tornar-se como eles,
Uma alma caída não-se-sabe-de-onde,
Ou por qual objetivo.
 
Pois se hoje mesmo, sinto o quanto sou efêmera
Nos corações que cultivei
Por onde plantei flores que cresceram
E murcharam,
Negligenciadas.
 
Talvez seja melhor que eu seja assim,
Uma alma que passa, como uma nuvem carregada,
Que chove e cai na terra abençoada,
Fertilizando tudo, 
E depois retorna, evaporada,
Sem que seja lembrada,
Sem que seja notada.
 
 
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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 25/03/2013
Reeditado em 31/01/2024
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