Loucura d'Alma

Carne pulsante e instintiva,

aos fatos falsos adstrita;

carne estulta e restrita,

fechada em nescidade inventiva:

Coração! atormentado e derradeiro,

no último suspiro perfura-se;

Oh, a frágua excede e perdura-se!,

e da dor torno-me hospedeiro...

Ser ledo e são desconheço

e, o que com o desplácido tempo desvelei,

junto com o meu coração mesto velei...

Ah, pelo que amo... padeço!!!

Enegreceu-se-me o racicíonio

e, ao helmíntico pensamento,

seguirei com lágrimas, urras, tento

e demasiado escrutínio.

Ah, rastejarei convulso, sofrendo

como sôfrego e agônico esquecido

que, lamuriando por ser vencido,

sorve o próprio pranto morrendo!

Ah, divagarei em podredouros e charcas

à busca doutro coração,

pois sei que em obliteradas arcas

encontrarei vida e emoção.

Impensante, terei de meu sangue

o maior lhano ufano,

como se o ser humano

fosse casto e contínuo como mangue.

Ver-me-ei, raquítica substância,

com repúdio, pois inda terei o Ar.

Ah, viverei à apetecível ânsia

de por algo me enforcar!

Quando meu corpo desamparado,

caindo no sórdido oblívio , putrefato,

desmanchar-se em ríspido fato,

ter-me-ei por encerrado.

Assim somente

meu Eu apodrecerá;

Assim somente

meu Ardor morrerá.

Desafinado
Enviado por Desafinado em 22/03/2013
Reeditado em 07/04/2013
Código do texto: T4202538
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