Fragilidade das pessoas modernas
As pessoas são tão frágeis nos dias de hoje. Não há mais laços sociais que resistam a um único desentendimento, a uma única oposição ou crítica. Andamos sempre prontos a romper e contra-atacar. Talvez por estarmos sempre nos sentindo ameaçados, com o sentimento de que a nossa imagem está em jogo, a nossa reputação está em cheque. Errar se tornou fraqueza, sinal de defeito. Na ciência o erro traz a chance de um novo olhar, novos caminhos para o acerto. Parece haver desvalorização das relações sociais e das pessoas. Casamentos são quebrados à toque de caixa como contratos comerciais. Amizades são raras. As interações sociais nas redes virtuais se limitam à exposição de opiniões e vez ou outra breves desacordos entre as ideias seguidos de exclusão da rede de "amigos". Nunca há um convite à critica, a discussão - que seja sincera.
Quantas vezes errei com palavras e opiniões. Até me senti abatido pelos resultados fracassados que minhas mãos criaram. Por outro lado também já erraram comigo. Foi quando a mágica do perdão aconteceu e me humanizei. Não virei corrupto. Não me vendi. Não me visto de culpa e silêncio por um crime que não cometi nem por uma boa-ação que fiz. O calvinista que me perdoe. Não posso esperar pela sorte e menosprezar as boas obras, não mais.
Como é difícil interagir com as pessoas quando a intolerância pressiona qualquer dos polos: assim o patriota é cego e "brainwashed"* e o revolucionário é um romântico visionário ou subversivo; o rancor é diabólico e o perdão sempre é falso. Não existe mais falar sem pretensão apenas para falar com - só há o falar contra ou o falar em favor. Todo estão apenas certos e todos os demais estão errados, mas o jargão liberalista segundo o qual cada um acredita no que quiser continua atuando no palco da hipocrisia evasiva do nosso grande espetáculo chamado ego.
(*brainwashed é uma pessoa que sofreu lavagem cerebral. Não achei termo melhor)