Abandono
Soturnas flores despidas
Do perfume que exalavam
Perecem pisadas sem pena
Perdidas em funesta cena
Dos caules fragilizados
Desprendidas ä revelia
Entregam-se assombradas
Aos anônimos das calçadas
Identidades furtadas
Sob passos apressados
Estupidamente gelados
Fios de vida ignorados
Vem o vento matinal
Empurra-as nos bueiros
Sem tempo para despedidas
Sem esperança ou guarida
Murchas pétalas pisoteadas
Massa de flores amorfas
Desbotadas, inodoras
Agonizam ante a demora
Sobram pedras e vidraças
Sementes desintegradas
Sobram retalhos de sonhos
Nos vazios jardins tristonhos.
Ana Stoppa