O pedido - Divisão divina
Rumores invisíveis saem de nossos olhos
Nas águas divididas
Crepita o fogo da paixão
Renascida numa cruz
Cristais chamuscados rodopiam nosso paraíso
Numa roda branca mulheres gritam mais alto que suas almas
Clamando
Chamando
E rodam, e rodam pedindo
No meio do fogo giram se espalhando.
Crises de fome e de medo ressuscitados com fervor
Por doces vozes de mãe
Pelo canto glamoroso e regido por fé
No todo poderoso que, sem saber
Colocou no mundo pés de calamidade
Répteis insaciáveis
Com insensatez, dura sanidade
Calmamente levantando do pó a morte
Não há mais brasa
É o fim, os últimos tempos da chama
Crianças paridas e mal feitas
Crenças mal ditas, um tanto menos feitas
Efeito de clareza, de vontade célebre
O cérebro das divindades unidas
Que vem trazer, resgatando
As antigas rezas formigando no peito
Corpos enfeitando calçadas, ricas, cheias de brilho, cheias de estrelas
Agora, o que fica... Corpos encharcados de vinho e suor
Ambos vermelhos, como o céu, como o chão
Mas de sangue fervendo
Realçando buracos desgastados e bem moldados por enchentes
E nós sempre de pés descalços pela beira-mar
Um pesadelo novo
Repetindo
A calamidade tão cobiçada por seus filhos
Fiéis
Fundadores de abóbodas infinitas
Arrastam os dedos no céu
Pedindo consolo, dizendo Amém!
Agradecendo, em vão, mesmo que nada venha
Nem sangue, nem pão, apenas o coro em choro
É o que resta de um pedido mal feito