Atlas

Minha alma jovem tem dor nas costas,

Desse árduo sofrer os pesos do mundo;

Inalar o mau cheiro das tantas bostas,

Que dia a dia, ante nós são dispostas,

Onde o raso faz pose de profundo...

Essa sina que me faz um Atlas, infeliz,

Talvez por sadismo de Júpiter e Hera;

Nem de longe foi o destino que eu quis,

Não poucas vezes estive por um triz,

De jogar a toalha e de vez, dizer: Já era...

Vendo os moribundos maculando Deus,

Que quando saudáveis cultuavam o diabo;

Os presos exibindo os crucifixos seus,

Que há poucos dias os mesmos fariseus,

Riam de quem escorregava no quiabo...

A pátria dos livres aplaudindo os tiranos,

Os eleitos do povo guardando vermes;

As consciências abafadas por sujos panos,

Os asnos falando como seres humanos,

E os poucos de bem, assistindo inermes...

Minhas armas, não vencem, esses pegas,

Há outros como eu, na mesma escola;

Melhor é deixar essa visão tão piegas,

Pra sofrer menos, como as almas cegas,

Que indigentes vivem apenas de esmola...