Vou abortar
Desde que o destino me cerrou o cenho
Virando os ventos que trazer, te podem;
Decidi abortar a esse amor que te tenho,
Amar só é ser um Cristo entregue ao lenho,
Simpatizantes veem de longe, não acodem...
Não serei radical como o presidente Vargas
Mas, novo plano, esquecer; a girar ponho;
Cismamos com a estreita ante portas largas,
Beberei a infusão abortiva de ervas amargas,
Em poucos dias hei de expelir esse sonho...
Nego-me o anelo, mas, preservo tuas razões,
Ainda que mantenha o direito de delas divergir;
Há um tempo em que as águas das ilusões,
Descem quais cascatas em nossos corações,
E contra essas correntes, é melhor nem ir...
Depois que ventos serenos dissipam a fumaça,
Quando o coração domestica sua rebeldia;
então o pleito do indivíduo diverge da massa,
as cordas dos apelos doentes cedem às traças,
finalmente se filosofa: Eu era feliz e não sabia...
O jogo acabou, eu misturo as minhas cartas,
Já que assim tímida, para ver, você não pagou;
Com você vivendo em Atenas e eu em Esparta,
Quando Jesus visitou as irmãs, Maria e Marta,
Foi apenas à boa escolha que o Mestre elogiou...
Vai que tô doido de pedra, e tua escolha é boa,
Nesse caso meu aborto há de ser medicinal;
Vai melhorar até a pele pra que outra pessoa,
Seja qual Ester, escolhida e guindada à Coroa,
A paixão é plebeia, amor, é de estirpe real...