Desejos da goetia
(...) quero partilhar do teu silêncio
e silenciar teu canto.
Envenenar-lhe com o mais doce dos venenos
e o fazer engolir teu pranto.
Jogar-te-ei na mais profunda das covas
cavadas pelos pés do covarde que chora;
saltaremos da beira do abismo
lamentando o amor perdido.
(...) quero partilhar da tua angustia.
E desse martírio brotará a luz
do cigarro tragado de culpa
sangrando no leito sedento
da doença sem cura.
(...) quero partilhar da tua loucura.
Fomos pintores das nossas desgraças
que moldamos com dores e desamores;
e o livro da nossa estória, incompleta
e comida pelas traças.
(...) quero partilhar dessas páginas.
Juntaremos os pedaços do vidro,
os cacos da alma, e as noites de desespero;
e faremos o mais bonito e trágico
de todos os cristais.
(...) quero partilhar dos recomeços.
Mas nada emoldura a eternidade.
E as mentes cheias só culpam
nossos corações que permanecem vazios.
Que entre os pecados e suicídios
a vida esvaia turva.
(...) não quero partilhar do teu fim.
Somente por desejar que nós
corrêssemos sem tropeços;
(...) e querer fugir da sua morte.
- da morte que a vida me traz. -