Paisagens urbanas
Corre, homem comum
Pelos trilhos de tua própria vida
Pelas ruas mudas, impassíveis
Frias testemunhas
De teus desenganos, desamores
Corre, como fazem os teus
A pisar microorganismos
Vidas menores que ignoras
No entanto estão ali
Zombando de teus atos
Corre, homem comum
Pela urbana selva
Acostuma teus ouvidos
À tristeza dos pássaros
E ao canto dos pobres
E ainda que não queiras
Chegarão a ti
O eco dos assassinatos
E a (imensa) solidão dos monumentos
Corre, homem comum
De tua própria condição
De ser pensante, ser humano
Tu, que és tão hipócrita
E tão monossilábico
Tu, que cala-te e esperas o fogo
E andas a vagar
Sozinho e sem destino algum
Na noite mais escura
Desta vida
Corre, homem comum
Tu, ó sombra esquálida
Que encerras em teu peito
Abismo incerto
Monstros e mais monstros
Medo, medo e segredos
Tu, que já não passas
Do tosco e triste reflexo
Projetado em meu espelho
(Wilker Duarte) 03/0802011 08:15