Amém?
Assistia ao padre nos sermões fúnebres
de domingo a domingo
pelo beco esguio
na capela de esculturas podres
pela salvação? eu me pergunto
como a fome que me faz comer
provavel que eu vá por não ter nada a fazer
mas no fundo, é pelo medo, que todos sentimos juntos
Acordo e me parece que não amanheceu
a fumaça que cobre o sol não foi do meu trago
muito menos de um, ao ser celeste, mal agrado
talvez tenha sido apenas a má sorte de um plebeu
Devo ir me confessar, pois ontem pequei
minha mulher havia tomado banho
meu membro nao resistiu a tanto
e logo, quando o sangue me percorreu mais forte, subjugado ao meu instinto, gozei
Hoje nao vou trabalhar pois devo mais do que depressa garantir minha estadia no céu
minhas entranhas sentem fome, mas nao tenho comida
e mesmo se tivesse, deveria repartí-la com todos os meninos e meninas
ó meu deus, não esqueça, entre todos os outros pecadores, mais esse réu
Dentro da capela, toda aquela gente sofria
se escutava apenas a harmonia do choro
talvez o ranger do coro
das estruturas de madeira ficando vazias
No confessionário poderiam colocar no lugar do homem pálido
um gravador com uma fita
ja que das palavras que ele dizia
todas eu ja havia decorado
Fui como cheguei, só
pelo beco esguio saindo da capela
acendi uma vela
pois nao vi sinal do sol
Olhei para o céu e procurei por ajuda
na minha mesa nao tem pao nem leite, o dizimo nunca curou aquela fome aguda
entao espirito santo, enche minha barriga cristã
Ó quando no inicio, aquele querubin desceu dos céus, só pode ter levado toda a luz consigo
por que quando mais preciso
a enorme claridade lá de cima se ofusca confundindo minha mente sã