Retórica dos descontentes
“Sempre em frente, nunca estarás sozinho”.
Ainda lembro-me do timbre que proferira-me estas palavras.
Odeio-me! Por não respirar sem você!
Estou sangrando por você – exageradamente.
Sinto-me como se meus ombros suportassem o peso do mundo
Meus pesadelos devoraram meus sonhos... Meus sonhos,
minha essência, minha vida, meu amor...
Admito não ver sentido algum na felicidade da criança
ao ganhar a cocada que tão lhe era desejada.
Admito não ver sentido algum na alegria do velho
por estar velho e, ainda assim sentir-se jovial.
Admito não ver sentido algum na mãe que mesmo com o coração
dilacerado, não perde a esperança de ver o Tempus bonanza.
Admito não ver sentido algum no adolescente que acredita
que o primeiro amor, será sim o primeiro mas também o único.
Admito não ver sentido algum no homem que declara juras de amor
à sua Senhora mas que ainda assim busca romance nos braços de outra.
Amor meu, admito não ver sentido algum na existência, na supremacia,
na ciência, na religião, na política, na sociedade, na filosofia e no poder
da palavra! Nego tudo que me é certo perante a ti, olhos lindos!
Pois sei que de todas as minhas incertezas a maior delas –
e a mais atormentadora também – É aquela, que me vem
a todo momento, a todo segundo, a todo instante antes de dormir:
“E se?”
Samuel Reis