Indução

O cheiro do cigarro que não fumei invade minhas narinas.

O gosto da bebida que não tomei rasga minha garganta.

As experiências que não vivi me alfinetam

E bradam:

“Idiota!”

Existo por osmose,

Experimento por extensão,

Aprendo por dedução.

Quando todos mergulham de cara e chocam-se contra o fundo da piscina

Eu observo tudo de braços cruzados desde a beirada.

Não quero molhar-me,

Esqueci-me da toalha para me enxugar.

Tenho frio e a água está gelada.

Prefiro assim, existir sem fazer esforço.

Sem precisar ficar suplicando todo o tempo:

“Olhem para mim, por favor”.

Basto-me.

E as sensações que não sinto me são suficientes.