Monólogos ao amor e à sorte
Repouso no recanto e canto esta última lira.
Na escuridão encontro meu abrigo.
Rodeado de pensamentos e vozes, refaço as trilhas daqueles que foram nossos últimos momentos.
No aroma de tuas camisas ainda impregnado do teu perfume, ou nestas taças na qual posso ainda sentir teu hálito fresco.
Fecho meus olhos e revejo teu rosto pálido, eternamente adormecido.
Amor! Sei até onde este sentimento pode nos levar
Os atos extremos que cometemos sem ao menos pensar.
Meu amor, o desespero da tua falta me consome.
Cá estou. Insano, buscando ir ao teu encontro.
Pois não há mais nada para mim.
Maldita sorte sem norte.
Que me levas onde bem entendes sem se preocupar com as consequências.
Recebe teu salário em minha amargura e sacia-te num cálice de minhas lágrimas.
Quão sofrido tem sido meus dias sob tua tutela.
Quão amargas minhas manhãs nebulosas e tristes.
E ao fim do dia, ri de minha miserável condição.
Fizeste de mim o pior dos seres.
Tiraste de mim toda chance de felicidade e ternura que residia em meus olhos.
Arrancaste o amor de mim.
O amor que outrora trouxeste para alívio de meus tormentos.
Aquele a quem jurei as mais belas súplicas.
Cuja personalidade, nem os grandes filósofos gregos poderiam enunciar ou os romantistas parafrasear.
Aquele cujas feições me rendi.
Esculpido no mais incrível arquétipo divino.
E agora nada ficou.
Ao acaso enciuma-te de mim?
Se assim for, arranque de mim este coração e tome-o para si.
Livrai-me do remorso da perca, da dor da saudade e da angústia de viver.
Se não, arreda-te daqui. Faça a Morte apenas minha honrosa companheira.
Pois já não posso mais esperar por dias vindouros.
E a única graça que almejo, é a morte deste corpo fraco e inválido.