SEM SONHOS.
Pelo tempo caminhando,
Vai andarilho a vagar,
Ombros frágeis se curvando,
Velho fardo a carregar!
E os pés grossos de calos,
A percorrer tantas sendas,
Triste semblante a regalo,
Dessas estradas horrendas!
A seus olhos tudo é belo,
Cabelos soltos ao vento,
Na vida muitos mistérios,
Na face tantos tormentos!
No peito saudade dói,
Nos olhos que pranto cai,
E uma dor que lhe corrói,
Por tudo que deixa atrás!
Corpo cansado e aturdido,
Pelos fardos carregados,
Por tanto desiludido,
Leva do tempo um recado!
Seu desejo segue a risco,
Em seu trajeto a seguir,
Em pleno sol por aprisco,
E o duro chão por dormir!
Desconfiado da vida,
Que escolheu pra viver,
Tal qual ovelha perdida,
Nas brenhas a perecer!
Cidades! coisas que ficam,
Aldeias de simples gente,
De corpo que sacrificam,
A andar continuamente!
Nas beirada das estradas,
Deixa seu rasto no pó,
A vagar sem ter paradas,
De cedo ao arrebol!
Tão ilusório destino,
Segue sozinho essa trilha,
É pássaro longe do ninho,
Os dias são-lhe armadilhas!
Vão aos poucos consumindo,
O vigor que ainda resta,
E o brilho do olhar se indo,
Deixando tristes arestas!
Por estranho é tratado,
Sem sonhos nem esperanças,
Por ninguém é convidado,
Passa sem deixar lembranças!
Vagando a triste figura,
Sem ter parada vive ao léu,
Seu claro é noite escura,
Em conta estrelas no céu.
Nada lhe é empecilho,
No caminho a percorrer,
Dos olhos ofuscam o brilho,
Pro ver seus dias vencer!
Há! Se vão as forças e vigor,
Pelas muitas lidas que teve,
Ao verem-se horas de pavor,
Dos dias que se manteve!
Assim passa e compre sua sina,
Pobre homem vai-se ali tão só,
Ao sobrevir-lhe a morte ferina,
E o corpo tornar-se em pó.
Cosme B Araujo.
07/12/2012.