Ritual

Não digas nada.

Nada que seus olhos já não gritem.

Nada que suas mãos nervosas

gesticulem

Num gesto desesperado

em busca de socorro.

Não digas nada.

Nada que esteja estampado,

borrado, fonetizado em suor

ou medo.

Sei de tudo.

Já sabia antes.

Nunca foi incrédula ou ingênua.

Nunca procurei em suas palavras

semântica alguma.

Nada faz sentido.

Ou tudo faz sentido na

lógica pervertida de você.

Teu silêncio devora o tempo.

Carcome o fio condutor da conversa.

E, as pausas ofegantes

carentes de oxigênio e sentido

se esfregam nas frases balbuciadas.

Numa lascívia comovente

Como quase viessem

a expressar simplesmente ...

A dor de ser vil.

A dor de ser covarde e impotente.

A dor de ser menor,

pequeno e microscópico.

Incapaz de se revelar

Nem diante da lâmina,

Nem diante da lente de aumento.

Nem diante da verdade da morte

ou da velhice.

Não fale nada.

Não comece.

Não avance e nem recue.

Sua inércia está imantada

de culpa e de horror.

Seus olhos criminosos confessam tudo.

Explicitamente tudo que presenciou,

Tudo que fez .

E, pior tudo aquilo

que cegou para apenas desviar

de foco.

Mas foi inútil a manobra.

Agora que as palavras são inúteis

Que a condenação é absoluta.

Apenas lhe peço no tribunal da consciência.

Vás embora, bata o portão com cuidado.

E, não volte nunca mais.

Sua partida já ocorrera há muito tempo.

Só se completou o ritual agora.

O silêncio dos segredos cruéis

não deve ser quebrado.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 02/12/2012
Código do texto: T4015872
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