O que me deste
O apreço que diz não me ter,
eu nunca o quis receber.
Seu sentimento,
com meu consentimento,
fez-se pau, pedra, cimento.
Não, não me ofereça o seu lamento:
a mim me basta minha própria dor,
que a um só tempo é alento e é prazer.
Mórbido que seja,
há gosto para tudo.
Há apetite para tudo.
E contudo deixo-me prender,
recebendo, mas fingindo não querer,
sua luxúria e sua cobiça e sua preguiça,
só para me satisfazer.