ACERTO DE CONTAS
Depois de longa caminhada, a dúvida
A incerteza, a desesperança
O repensar, o acerto de contas,
A insegurança, a desconfiança,
Na hora de juntar o que sobrou
E de tudo o que se fez, pouco ficou
Uma mágoa, uma dor, uma ferida
Uma saudade, uma lembrança perdida
Um sonho vago, que não se sonhou
Um sorriso amarelo, um desejo contido
Um grito de dor quase esquecido
Um suspiro fraco, um aí tão doído
Um olhar no horizonte, perdido
Uma lembrança vaga, sem sentido
Um peito arfante, um coração sofrido
Que vive a chorar por não ser querido
E, apesar de tudo, a hora da verdade
Ela chega, fria, crua, sem vaidade
Não há truque, nem falsidade
É a vida, na sua imparcialidade
Quem fez, tem o que comemorar
Quem foi negligente, nada a contar
Quem nada fez, nada a inventariar
Quem viveu, tem o que festejar
Quem não viveu, vai reclamar
Por que não há mais tempo
Agora é tarde, só resta lamento
E só o sofrimento
Há de lhe acompanhar
E no desespero, nesse desatino
Só resta a frieza do triste destino
Do que lhe restou de sua má sorte
De sua tristeza, de sua desdita
Nada lhe sobrou do que acredita
E vai pela vida, de frente pra morte
28/02/2007