O Espelho
A fumaça sobe, sobe...
E se despedaça em lágrimas.
Eu espero que ela se encaixe finalmente
No vazio de uma vida subtraída.
E eu observo pela milésima vez,
O interminável incenso.
Incenso de jasmins.
Flor que te espelha,
Flor que te traz de volta,
Flor que já se esqueceu,
Flor que te revive por horas.
Horas estas que eu estou viva.
E cada vez que se apaga,
O jasmim se despedaça,
Ele retorna ao seu confim,
Abaixo de nossas sujas camadas vivas.
E eu caio no confim junto.
Eu já não sei o que sou.
Sei que a flor é você,
E eu estou apenas existindo.
Eu existo, eu sou a morta.
Sou a borboleta no fim do dia,
A poeira embaixo da estante,
A folha encurralada,
O tornado acalmado,
O fogo em cinzas,
A fumaça errante do meu incenso.
Eu sou você espelhada,
Presa do outro lado,
Chorando o seu sorriso,
Colhendo sua flor do dia.