POBREZA

Hoje a pobreza mostrou-me a cara

Olhou-me nos olhos e proferiu-me palavras.

Ela é negra.

Por mais jovem que seja possui rugas.

Suas mãos são calejadas.

Por mais brancos que sejam os dentes

Seu sorriso é amarelado, cariado.

Seus cabelos grossos, sujos, desgrenhados.

Ela não tem altivez.

Ela não tem vez.

A pobreza, uma praga, é.

Ela é homem; ela é mulher.

Ela é magra.

Ela é pálida.

Ela é fome.

Ela é dor.

Não adianta ela gritar,

Pois não virá nem um bem-feitor.

Sua alma é corcunda, engelhada,

Ela é mal remunerada.

“Bem aventurado os pobre de espírito”

Mas ela não tem carne

Muito menos espírito.

Ela é só osso.

Ela é o osso.

Osso de alguém que deveria ser gente

Que nem a gente.