A cultura do des-amor

Sou um pessimista. Acho que tudo sempre vai dar errado. Admiro aqueles que pensam ao contrário, pois são essas pessoas que nos fazem persistir. Eu, não sou assim. Gosto de tragédia, de finais tristes. Ainda acho o final da peça de teatro Romeu e Julieta, a idéia mais perfeita para simbolizar o amor. A natureza desse sentimento é essencialmente dor. Em alguns momentos ele transforma-se em felicidade, alegria, mas essa é a face ilusória do mesmo, do contrário, o amor é a maior de todas as tragédias. Está no começo-meio-e-fim da vida.

Desejamos. Lutamos. Morremos. Por amor...

Finais felizes nunca me chamaram atenção. Assemelham-se com aqueles folhetos das igrejas que mostram como será a Terra prometida. Sabem? Todos num jardim comendo frutas do pomar e com sorrisos estampados nos rostos. Fazem-nos acreditar que isso realmente um dia existirá. Tolice!

Na psicanálise costumamos dizer que o nascimento é para o bebe um ato de sofrimento, pois o conforto do corpo da mãe dá lugar ao mundo externo, no qual, passará a sentir as dores e os medos que lhe acompanham. Sim, é isso mesmo que ocorre. O mundo é um ambiente perigoso, sujo. Convivemos com pessoas em sua grande maioria corrompidas pelo sistema, que por sua vez nos torna parte do mesmo, como moldes replicadores. Somos feito de amor e ódio, bem e mal, somos ambivalentes.

A maioria demográfica de nós compõe o quadro das estruturas negativas, pois se o oposto fosse verdadeiro, o mundo não seria o que é. Teríamos, provavelmente, dado um salto evolutivo. Do contrário, o que existe é atraso. Insatisfação. Frustração. Ideação suicida. Entre outros sentimentos transformados pelas sociedades modernas e seus amores líquidos. A inversão de valores, a des-humanização. Todos juntos formam o estado patológico atual. E assim construímos a cultura do des-amor.

David dos Santos
Enviado por David dos Santos em 25/10/2012
Código do texto: T3950985
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