Não é preciso carros ou cintos,
A falta de piedade transborda
E arrasta, esquarteja...
Faz mais órfãos a indiferença
E mais que balas perdidas
São os olhares – flechas,
A boca em discurso
Sem rima, sem rumo
São os meninos sem remo
Presos a braços de palha
Mal-costurados
No alinhave do descuido
O criado é do mundo
A porcelana é chinesa
Flutuando especiarias - da Índia
Alagada de fome
O servente é mudo
Mas não é cego
E a morte explode artifício
No céu de estrelas
E no chão das guerras
O jornal do dia, se chove,
É sopa de letras, borradas,
Irrompe o sol, é torradas
Recheio miséria
Rebentam as ondas
De encontro às pedras
Lambe o musgo,
Nem verde, nem esperança
E se pende a balança
Desaba, a parede de estuque
Levando o teto de lona...
Do pó ao pó, sem dó nem piedade
Do barro à lama
De Adão à Eva
E nem importa,
Passar... João,
Perder... Maria,
Todo dia é dia de ninar
Nem toda noite escura, cura
Nem sempre a fruta é madura ou dura
E maçã que é serpente...
De repente:
É serpentina no carnaval