ASSALARIADO SORTUDO
Neste infeliz mundo-cão,
Que mais parece um degredo,
É já mesmo uma ilusão
O procurar um emprego.
Quem tem capital tem tudo
Não faz falta a profissão
Assalariado é sortudo
Pelo menos no seu pão.
Um emprego é sortilégio
Em toda a crise tramada
Capital é privilégio
Quem não o tem não tem nada.
Há quem queira um voluntário,
Estranha consolação,
Por cá anda-se ao contrário
Ou, melhor, em contramão.
Nesta rara incongruência
Não virá mesmo a “matar”
Chamar para a Presidência
Quem estiver a trabalhar?
Se “desempregado do ano”
Foi já um título inventado
Dir-se-á “último moicano”
Ao pobre assalariado.
Não é sorte, não é sorte,
Ser órfão de raridade,
Sente-se o odor da morte
Nesta vil fatalidade!
Frassino Machado
In RODA VIVA