Névoa
Você dizia que seus olhos estavam em mim,
que sua alma estava conectada à mim,
que conseguia me sentir em cada pulsação,
que nossa afinidade a complementava,
mas os dias passaram no calendário,
as folhas de outono caíram de seus galhos,
o vento tornou-se menos ameno,
o frio gelou as cobertas que antes nos aqueciam,
e hoje o que sobrou de nós está distante,
e nem que eu aja como um cego tateando no escuro,
nem que apure meus meus sentidos para captar seu perfume,
nem que aprimore minha visão para enxergá-la além da névoa,
mesmo assim você desaparece entre meus dedos,
mesmo assim você silencia a melodia que havia no ar,
mesmo assim você percorre um caminho oposto,
volto agora ao começo quando só havia um vazio,
quando escrevia poesias no pretérito mais que imperfeito,
quando passava noites em claro tentando ver a lua da janela,
como um pássaro aprisionado em sonhos não realizados,
como um vampiro insone perscrutando minha escuridão,
tentando encontrar algum sentido em ter e perder,
buscando um alivio para minhas angústias ressonantes,
clamando por alguma inspiração para continuar,
esperando um novo nascer de sol sem dor...