TRIBUTO À MINHA DESGRAÇA (Um tributo aos poetas ultrarromânticos)
Às vezes, sinto soprarem ventos com furor
Que encapelam o majestoso mar,
Levantando esbeltas ondas no ar!
Tudo sorri por fora, mas no meu interior,
Às vezes, sinto que foram tiradas de mim
As nuvens do manto azul de uma manhã distante
Que um dia imaginei eterna, um amor sem fim, que tive,
E assim tão sincero que, mesmo ausente, ainda vive!
Encarcerado nos limites desta hora profunda
Em que me debato numa enxurrada de lembranças,
Arde no peito uma vontade que me afunda
Cada vez mais, e mais fundo, em perdidas esperanças,
Neste lodaçal imundo onde jazem as flores dos sonhos
Que brotaram sem nunca terem desabrochado,
E como as ondas altivas do mar agitado,
Minha vontade se perde em ventos medonhos!
Se ao menos eu pudesse ressurgir,
Renascer das cinzas daquele céu destruído,
Se ao menos eu pudesse reunir,
Recompor os fragmentos daquele sol esvaído,
Talvez minhas auroras nascessem radiantes
E radiantes fossem as horas de todo dia,
Talvez morressem na minha alma as águas vazantes
Que me levaram o sorriso, mareando minha alegria!