Desencontro
Encolho nessa cadeira
Um corpo que não abriga mais tanta alma
Lágrimas escorrem pelo ralo da solidão
Palavras ecoam na saudade
Repetidas e tristes
Abraços de uma infância tão rápida
Como um flash roubado
Encolho tanto
Que pulverizo meus sentimentos
Miro num inseto que me parece livre e nocivo
Quem me dera sair e voar
Ultrapassar o previsível
Ou o risível.
Apenas voar e espalhar aleatoriamente
O pouco que há em mim...
Violar a poesia com um lirismo inesperado
Com uma manhã de raios tortos
De calor súbito e hormonal.
Brindar simplesmente
Com uma taça gelada de champanhe
E suas bolhas que de lá escapam
Não sabem do que fogem
Tudo é tão infinitamente finito.
Você não é mais uma criança
a ser abrigada.
Você não precisa de minha proteção
e guarida.
Agora, você precisa crescer e lutar.
Mas essa vontade de se encolher
diante do mundo...
De ser pequena e imperceptível.
De ser a sombra da moita imaginada.
De ser a rima sub-reptícia
Das poesias mentais
Ou das ironias explícitas.
Você precisa dizer adeus
Partir sem alarde.
Deixar para trás tudo.
E, ao mesmo tempo levar na
bagagem imensa da lembrança
A ferramenta principal de sobrevivência:
Dignidade.
A dignidade e a honra de se libertar
E assumir sozinha suas próprias decisões.
Se depois houver arrependimento...
Se depois houver um alento ...
Se depois houver alguém que lhe
ouça as mágoas e
seque suas lágrimas.
Afinal as águas se encontram sempre.
As pessoas às vezes, não.
Fique com o cais seguro da derradeira poesia.
Limparei de minha alma todas suas lembranças.
E tudo passará com um lapso, um rascunho
Que fora rejeitado pelo script final do destino.