Desencontro

Encolho nessa cadeira

Um corpo que não abriga mais tanta alma

Lágrimas escorrem pelo ralo da solidão

Palavras ecoam na saudade

Repetidas e tristes

Abraços de uma infância tão rápida

Como um flash roubado

Encolho tanto

Que pulverizo meus sentimentos

Miro num inseto que me parece livre e nocivo

Quem me dera sair e voar

Ultrapassar o previsível

Ou o risível.

Apenas voar e espalhar aleatoriamente

O pouco que há em mim...

Violar a poesia com um lirismo inesperado

Com uma manhã de raios tortos

De calor súbito e hormonal.

Brindar simplesmente

Com uma taça gelada de champanhe

E suas bolhas que de lá escapam

Não sabem do que fogem

Tudo é tão infinitamente finito.

Você não é mais uma criança

a ser abrigada.

Você não precisa de minha proteção

e guarida.

Agora, você precisa crescer e lutar.

Mas essa vontade de se encolher

diante do mundo...

De ser pequena e imperceptível.

De ser a sombra da moita imaginada.

De ser a rima sub-reptícia

Das poesias mentais

Ou das ironias explícitas.

Você precisa dizer adeus

Partir sem alarde.

Deixar para trás tudo.

E, ao mesmo tempo levar na

bagagem imensa da lembrança

A ferramenta principal de sobrevivência:

Dignidade.

A dignidade e a honra de se libertar

E assumir sozinha suas próprias decisões.

Se depois houver arrependimento...

Se depois houver um alento ...

Se depois houver alguém que lhe

ouça as mágoas e

seque suas lágrimas.

Afinal as águas se encontram sempre.

As pessoas às vezes, não.

Fique com o cais seguro da derradeira poesia.

Limparei de minha alma todas suas lembranças.

E tudo passará com um lapso, um rascunho

Que fora rejeitado pelo script final do destino.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/10/2012
Código do texto: T3917295
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