Cidade dos perdidos
Você assim
Nesta cadeira
Seu braço sobre o braço dela
À mão um copo com um terço de cerveja já quente
A luz do abajur opõe à escuridão da imensidão
Do seu quarto lúgubre
Seu pensamento sem festa
Desacata os batuques do seu coração
Ah quantas bocas beijastes
Quantos amores ganhos e perdidos
Nos carnavais da vida...
Suas fantasias perderam a cor
Mais um gole...
A noite pertence àqueles que ainda não se tem
De lá de fora vem às canções dos bares
Entre gargalhadas que parecem disputar lugar no pódio de cada mesa
Todas, sem exceção, falam de amor
E dos horrores daqueles que sofrem a dor de não ser amado
Por quem tanto ama
Daí você pensa o quão a vida é sonolenta
E irremediavelmente doentia a necessidade de cada um
Tentar se achar no outro
Último gole...
A noite invade seu peito no fim da tarde de mais um dia
A poeira descansa sobre os móveis do seu quarto
Você olha pra sua cama desarrumada há uma semana
Tudo ganha sentido quando o sentido não faz sentido algum
Tem vontade de rir da sua loucura
E chorar da sua lucides
De repente sente uma saudade imensa
Mas não sabe de quem
Lembra-se do cheiro dos cabelos da Maria
Do olhar da Suzana
Lembra-se do corpo macio de Izabel
Dos beijos molhados da Iara
Da sobrancelha fina da Aurora
Lembra-se do embalo calmo nos braços de Carmem
E das conversas intelectualizadas da menina Ágata
Tentativa frustrada de mais um gole no copo vazio...
Você bravo se pergunta por onde elas estarão agora
E porque nada é tão completo
As coisas boas da vida são feitas de parcelas
Então você sente-se um estúpido
De ter um dia acreditado que teria todo amor do mundo
Na palma da mão
Então você olha pra ela e vê apenas um copo vazio
Desanimado recosta a cabeça e adormece ali mesmo
Sob o ruído tenebroso da cidade dos perdidos