ECOAM AS TROMBETAS
Não faz muito tempo,
Que se ouviram certas vozes
Expropriadas, num tortuoso lamento.
Vozes que não serviram de bálsamo
Ou cura,
Mas enfeitaram com sua triste revolta
Esta misera vida escura.
Formaram entre os séculos
Ecos vibrantes e nítidos,
Dos resultados aberrantes
Destes industriais apocalípticos.
Com sua dor escruciante,
Não souberam medir ouro nem fama,
Mas perfuraram os olhos
Dos que vivem nestes pântanos
De sangue e lama.
Ecoaram estas trombetas,
Delicadamente como colibris,
Destronando, mesmo que por um instante,
Aqueles que do Poder são donos e álibis.
Mas, no entanto as trombetas,
Calaram-se...
Apunhaladas por bestas sequiosas,
As vozes adormeceram,
Morreram,
Retrocederam.
Ora seduzidas pelo vício obsceno
Da popularidade,
Ora banalizadas pelos concertos
Da infame urbanidade.
Quisera ouvir apenas mais uma vez
Estas trombetas martirizadas,
Sentindo que sacodem as montanhas,
Que se apartam os mares,
Que se libertam escravos...
Pudera que em todos os lares
Se abrisse um canal, uma ponte,
Para suprir este abismo de ignorância
Com todas as vozes que ecoaram
Sem qualquer relutância,
Pela verdade, pela igualdade,
Pela vida, pelo amor,
Pela paz, pelo perdão...
Pelo reconhecimento eterno e inviolável
Do Homem sem o estigma
Violento e miserável,
De ser máquina e modelo do enigma
Secreto e obscuro
Da exploração.